Thursday, October 19, 2006



Amigos Analgésicos



Cansei de amigos analgésicos. Pessoas que estão prontas para lhe oferecer aquele ombro amigo quando você está mal e nada está dando certo. Urubus da angústia que parecem esperar ansiosamente para que você caia para bancar o bonzinho e lhe oferecer algumas palavras de conforto, exatamente quando você está aceitando qualquer palavra. Criaturas dispostas a passar horas a fio ouvindo seus problemas só para ouvirem um “nossa...se não fosse você aqui...”.

Odeio tais seres profundamente, odeio, pois depois de viver um pouquinho não é difícil compreender que se eles só são companheiros quando você está mal - quando você finalmente fica bem, eles lhe viram as costas. A ruína do amigo analgésico é a cura, pois, curado, é possível ver quem realmente gosta de você. É possível discernir o certo do errado, sem as lágrimas que nos cegam. E é aí que o amigo analgésico se desfaz. Sua felicidade é algo doloroso demais para que ele suporte e é aí que ele parte para outra investida – sempre haverá alguém sofrendo no mundo e ele não pode perder sequer uma chance.

Em uma amizade, ninguém precisa de ninguém, ninguém TEM que estar em certas ocasiões para se denominar amigo. É uma questão de escolha. Estamos com quem gostamos por assim nos sentirmos bem, estamos sempre com quem gostamos pois assim somos felizes. Quando não se está em uma data especial na vida de alguém, é de se lamentar. Nem sempre podemos fazer o que queremos, vivemos em um mundo onde os interesses pessoais são sempre segundo plano. O mínimo que se pode ser é sincero. Não quis ir, diga. Desculpe-se apenas se assim lhe convier e se for verdade. Mas não jogue farpas ao seu amigo se ele ficar triste com você por querer sua companhia num momento de felicidade única de sua vida, não julgue sua falta perfeitamente desculpável simplesmente por você ter lhe sido analgésico quando ele estava mal. Você não está nas fotos do casamento dele, ele sequer ouviu sua voz num dos dias mais felizes de sua vida. Pouco a pouco, sua lembrança vai se esvaindo num grande band-aid gasto na lata do lixo.

18 de Outubro de 2006

Trilha Sonora: “J´en Connais" - Carla Bruni


2 comments:

Thiago said...

J, nunca pensei que alguém pensasse assim como eu penso. "Amigos analgésicos"... mas já pensaste que muitas pessoas só querem outra se como analgésicos ela puder servir? É por isso que meu pai odeia presentes... Ele diz que, quando dá um presente, a pessoa que o recebe sente, devido uma norma social, não em todo caso, mas na maioria, uma quase que obrigação de, em outro momento, retribuir o presente. Como se num contrato... Como se, ao receberes um presente, tu assinaste um contrato de sempre haver a troca de tais regalos... Lendo esse texto teu, eu me sinto até menos "culpado" por estar sumido por esses tempos... eu preferiro ser metido a ser ausente... mas, na situação em que me encontro, é necessário um afastamento com o desejo de voltar... intrgante, mas é assim...

Saudades das risadas de chorar os lhos e dos abortos respirativos na falta de ar... saudades!

Beijos!

Jamie Barteldes said...

Olha só...long time, no see:D

A idéia do presente é bem ilustrativa sim. Claro que precisamos de alguém nos pondo pra cima quando estamos tristes, mas amigo é pra tudo. Acho que eu sei mesmo quem são nossos amigos quando se passa séculos sem ver alguém e quando se encontra, o clima continua o mesmo.

Saudade de ti, amigo de longas datas.
Um beijo!