Thursday, November 09, 2006




Algo sobre o casamento

Fomos acostumados a temer o casamento, a cerimônia, a oficialização. Tememos um papel como se linhas escritas viessem para tomar-nos a liberdade e dissessem :"agora não tem mais jeito". Como é dificil dizer "quer namorar comigo?", como é mais difícil ainda dizer "quer casar comigo?". É difícil pois não se sabe, por mais que se suspeite, a reação do próximo - muitas vezes não sabemos sequer qual vai ser nossa própria reação ao ouvir tais palavras, se vai-se correr ou ficar, se vai-se morrer ou poder, enfim, respirar.

Acho que se teme tanto por ser desconhecido. Há dois anos e pouco eu afirmaria com certeza que iria morrer solteira, afundando e me reerguendo em paixonites platônicas ou grandes amores que jamais dariam certo. Via-me escritora compulsiva - nada impulsiona mais a arte que a tristeza e a solidão. Hoje vejo-me de aliança no dedo, acostumando-me a assinar um nome a mais depois do meu Barteldes, apresentando as pessoas..."esse aqui é o meu marido", dividindo agrugas e felicidades ao lado de um menino homem que me surgiu do nada.

Vejo casais que se formam e rompem, vejo o mesmo brilho no olhar que carrego em tantas pessoas, vejo excelentes pais, excelentes esposas, vejo famílias que por medo não se formam, que por receio do peso da oficialização de algo que já é real para o universo. E me entristeço por não poder dar-lhes mais que o conselho: casem. Vivam juntos, comam juntos quantas quartas de sal forem necessárias. Ousem descobrir o prazer de não ter que esperar que amanheça para que se veja quem se ama novamente. A madrugada, jovens donzelas, é fria e longa demais para ser passada sozinha.


Trilha Sonora: "Como é que se diz Eu Te Amo" - Legião Urbana

1 comment:

Jamie Barteldes said...

acho que ela não é a última que morre, acho que é ela que mant~em as coisas vivas. Ela morre antes de qualquer outra coisa poder viver, sem esperança, vale a pena respirar...


"e aquela esperança de tudo se ajeitar..."